Vou ser sincero

Vou ser sincero com Deus e não vou evocar almas. Tenho menos perguntas para elas do que para a vida. No lugar, vou evocar meu coração, do qual pouco sei.

Queria falar com algum vulto do passado e dele receber uma verdade. Que importa uma verdade de mão beijada. 

Certa vez uma parapsíquica e telepata por profissão, e médium nas horas vagas leu em minha aura que eu possuía um julgamento muito forte contra as novidades que se aproximavam de mim. Rejeitei a princípio essa revelação e eis que sou pego em sua arapuca. Ela queria introjetar essa verdade em mim que me punha num paradoxo: em eu a rejeitando, era porque a julgava; em aceitando, era porque me reconhecia como o julgador. 

Quase sempre julgo, não, sempre julgo! Aceito algo depois de ter passado por mil leituras. Hoje parece que não. Mas, desde há muito foi assim. Preciso ler um tratado para aceitar o que me apresentam. Hoje parece aberto a novas experiências. Cada experiência, contudo, é acompanhado de estudos e mais estudos que comprovem sua evidência. 

É a minha realeza. Sabem que sou rei? Pois é, sou rei. Importa que haja súditos ao meu redor. Mas sou um rei bom. Porque se fosse mal, minha coroa não se perpetuaria. E bem que me apraz a coroa. Essa realeza vem da constelação de Leão regida pelo meu sol. Cai bem sobre meu coronário.

Tenho vivido uma vida boa. Não tenho o que reclamar. Alguns desafios aqui e acolá, os estou vencendo sem grandeza, mas com perseverança. 

Alguns delírios de conquista me sobem a cabeça de vez em quando, contudo seria um cenário solitário. Não sei viver sozinho. Quase todo meu dia é estar entre as pessoas. Lembra dos meus súditos. Bem, é assim. 

***

Deus, nesse momento em que a noite nos molha a todos, sana o ar, faz surgir os insetos e emergir as criaturas das valas, perdoa aquele que deveria se ver apenas como mais um animal entre tantos, e que, em vez disso, enxerga-se rei. Prepara-me para cada hora em que a vida me empurrar para cair. Eu vivo de base larga pensando nesses momentos. Se eu cair, me dê a mão. Ou não me dê. Apenas se o tombo for feio e o osso quebradiço, a cama dura e o teto destelhado for sem estrelas. Ficar deitado olhando o céu, tudo bem. Mas, sem estrelas é demais. 

Tempo, não tenho medo de ti. E isso é menos coragem do que ignorância.  

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